quarta-feira, 4 de maio de 2011

Camellia sinesis...



Os alimentos funcionais são definidos pela International Food Information Council (IFIC) como alimentos que provêm benefícios adicionais à saúde aos já atribuídos nutrientes que contêm. Dentre os alimentos funcionais, o chá é uma bebida amplamente utilizada, perdendo apenas para a água como a bebida mais consumida no mundo (LAMARÃO e FIALHO, 2009).

Originário da China, o chá é cultivado e consumido pelas suas características de aroma e sabor e propriedades medicinais em mais de 160 países, especialmente os asiáticos (NISHIYAMA e cols., 2010). Os chás produzidos a partir de folhas de Camellia sinesis são classificados em três categorias conforme o processo de fabricação: fermentado (preto), não fermentado (verde) e semi fermentado (oolong), sendo que o chá verde caracteriza 20% da produção mundial (LIMA e cols., 2009).

As propriedades funcionais do chá verde são atribuídas ao seu conteúdo polifenólico, que inclui flavonóis, flavonoides, flavondióis e ácidos fenólicos que totalizam cerca de 30% do peso seco das folhas. A maioria dos polifenóis do chá verde se apresenta como flavonóis, e dentre os quais, predominam as catequinas. As quatro principais catequinas do chá verde são a epicatequina (EC), 3-galato de epicatequina (GEC), epigalocatequina (EGC) e 3-galato de epigalocatequina (GEGC).


Uma típica bebida de chá-verde, preparada em uma proporção de 1 grama de folhas para 100mL de água por 3 minutos de infusão, geralmente, contem cerca de 35-45 mg/100mL de catequinas e 6 mg/100mL de cafeína. Alguns estudos indicam deixar a folha em infusão por 10 minutos.

Diversos estudos epidemiológicos sugerem que os potenciais benefícios desses alimentos seriam na redução do risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, tais como câncer, doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas e enfermidades inflamatórias (SENGER, SCHWANKE e GOTTLIEB, 2010).

 
Função das catequinas no metabolismo lipídico
Entre uma variedade de efeitos benéficos do chá verde, grande atenção tem sido dada à redução da gordura corporal. Evidências sugerem que o extrato do chá verde contendo 25% de GEGC possa reduzir o apetite e aumentar o catabolismo de gorduras. As doses de chá verde que surtem tais efeitos variam largamente, mas tipicamente ficam em torno de 3 copos por dia, equivalente a, aproximadamente, 240 a 320mg de polifenóis (LAMARÃO e FIALHO, 2009).

O sistema nervoso simpático regula a termogênese e a oxidação lipídica. Substâncias como os flavonóides do chá verde possuem capacidade de atuar sobre este sistema através da modulação da noradrenalina, aumentando assim a termogênese e a oxidação das gorduras, evitando, dessa forma, o aumento no tamanho e quantidade de adipócitos e, consequentemente, prevenindo o depósito de gordura no organismo e regulando o peso corporal. Nesse caso, alguns estudos mostram que as catequinas desempenham um papel importante no controle do tecido adiposo, principalmente pela regulação que a GEGC exerce sobre algumas enzimas relacionadas ao anabolismo e catabolismo lipídico, como a acetil CoA carboxilase, Ag sintetase, lipase pancreática, lipase gástrica e lipooxigenase. Estudos in vitro e in vivo sugerem que a GEGC modula a mitogênese, a estimulação endócrina e a função metabólica nas células de gordura, além de estar associada com a má absorção de carboidratos e gorduras no trato intestinal, por inibição enzimática e do sódio transportador de glicose (SENGER, SCHWANKE e GOTTLIEB, 2010).

Em humanos, estudos com indivíduos eutróficos e com sobrepeso que ingeriram doses altas e baixas de bebidas contendo catequinas, revelaram o decréscimo significativo no peso corporal, no IMC, na circunferência da cintura e na relação cintura quadril em ambos os grupos que ingeriram altas e baixas doses de catequinas. A medida da cintura indicou significante decréscimo na área total de gordura, bem como na área visceral em ambos os grupos. Além de encontrarem significante redução de colesterol total e do LDL (KAJIMOTO e cols., citado por LAMARÃO, FIALHO, 2009).
  • Efeitos adversos
Entre os efeitos adversos do chá verde, foi relatado que o consumo, por 5 anos, de chá obtido diariamente de 65 g de folhas, pode levar à disfunção hepática, a problemas gastrointestinais como constipação e até mesmo, à diminuição do apetite, insônia, hiperatividade, nervosismo, hipertensão, aumento dos batimentos cardíacos e irritação gástrica. Pesquisadores ainda complementam que altas doses podem causar efeitos adversos significantes pelo conteúdo de cafeína, especificamente palpitações, dor de cabeça e vertigem (LAMARÃO e FIALHO, 2009). Por isso é muito importante ter cautela quanto ao seu uso, pois ainda não existe um consenso quanto a sua dosagem e modos de administração (chá ou cápsula) (SENGER, SCHWANKE e GOTTLIEB, 2010).

Os estudos científicos atuais consideram a C. sinensis como uma planta estratégica para a saúde humana no século XXI. As pesquisas com o chá verde revelam de forma crescente seu efeito restaurador de estados patológicos e, por tratar-se de uma bebida amplamente disponível e de baixo custo, torna-se viável o seu uso como um importante coadjuvante no manejo nutricional em diversas patologias. No entanto, não se pode esperar que um único alimento tenha a capacidade de proporcionar um impacto de grandes proporções sobre a saúde pública, embora seja importante observar que mesmo um efeito modesto pode ter um impacto importante sobre as causas mais prevalentes de morbidade e mortalidade das DCNT, merecendo assim maior atenção, tendo em vista que em pouco tempo o consumo regular de chá verde poderá ser considerado como parte das dietas ocidentais. (SENGER, SCHWANKE e GOTTLIEB, 2010).

Também é válido ressaltar quer, com o objetivo de obter redução de gordura corporal torna-se importante aliar o consumo do chá verde a um plano alimentar equilibrado, além da prática frequente de atividade física, consideradas condutas favoráveis para acelerar o metabolismo energético (LAMARÃO e FIALHO, 2009).
REFERÊNCIAS

LAMARÃO, R. C.; FIALHO, E. Aspectos funcionais das catequinas do chá verde no metabolismo celular e sua relação com a redução da gordura corporal. Revista de Nutrição, Campinas, vol. 22, n.2, p. 257-269, 2009.
LIMA. J. D., e cols. Chá: aspectos relacionados à qualidade e perspectivas. Ciência Rural, Santa Maria, v. 39, n. 4, p. 1270-1278, 2009.
SENGER, A. E. V.; SCHWANKE, C. H. A.; GOTTLIEB, M. G. Chá verde (Camellia sinensis) e suas propriedades funcionais nas doenças crônicas não transmissíveis. Scientia Medica, Porto alegre, v. 20, n.4, 2010.

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